Muito se tem falado sobre a utilização de internet pelas organizações visando minimizar os impactos econômicos causados pela pandemia do Covid-19. Mas será que isso pode ser feito sem colocar em risco as organizações, em especial as micros e pequenas empresas?
Mesmo conhecendo a angústia e até desespero de muitos empreendedores vendo suas vendas diminuírem em função das medidas de segurança sanitária adotadas pelos diversos municípios do país e também a urgência em se buscar soluções que, se não proporcione uma volta ao estado anterior ao da pandemia, ao menos minimize as perdas, é sempre perigoso para a continuidade de qualquer empresa improvisar. A solução encontrada por muitos empreendedores foi adotar vendas de produtos ou serviços pela internet, valendo-se do alcance das redes sociais que, a priori, não apresentam custos significativos.
Traçando um paralelo com o outro problema causado pela pandemia – a saúde pública e o risco de perdas de vidas – onde, à revelia de comprovações científicas, muitas pessoas optaram pelo uso de medicamentos desenvolvidos para outras enfermidades, como a cloroquina, a ivermectina e até introdução retal de ozônio (medicamentos que podem apresentar complicações sérias), o uso da internet pode, ao invés de resolver, agravar os problemas das empresas em um recorte temporal maior.
Inicialmente é importante saber que a utilização da internet para disponibilização de produtos ou serviços ao consumidor deve estar amparada em um modelo de negócio definido pela organização. Modelo de Negócio é uma abstração da forma como a empresa entrega seus produtos e serviços, além de declarar sua capacidade de criar e agregar valor aos seus clientes.
Ao iniciar uma atividade o gestor define o modelo de negócio e, a partir dele, estabelece um processo de planejamento. Uma grande parte das micro e pequenas empresas pulam essa etapa e a consequência é o óbito de muitas delas em um curto espaço de tempo de atuação no mercado.
Não se pode simplesmente mudar o modelo de negócio sem que ocorra um estudo sério e realizado por um profissional Administrador. Ao mudar o modelo de negócios, o empreendedor deve questionar-se sobre as causas de fidelidade de seus clientes. Muitos clientes são fiéis por “tradição”, por amizade ou qualquer outro motivo que não tem a ver necessariamente com os produtos ou serviços comercializados. Colocar produtos e serviços a venda através de canais virtuais pode transformá-los em commodities o que fará com que anos de trabalho no desenvolvimento das relações com o cliente se perca. Isto com certeza implicará em consequências desastrosas para a continuidade das atividades.
Além disso, a idéia de comercialização via internet vai muito além de simplesmente atingir o consumidor através de redes sociais. Todo um conjunto de tecnologia de comunicação deve ser acionado, além de sólidos sistemas de informações, uma vez que a intervenção humana no processo deixa de ser possível.
Não se pode acreditar em panacéia, seja para vida de um CPF ou de um CNPJ.
Antonio Sérgio Scoarize
Administrador, especialista em Gestão de Pessoas
Delegado do CRA-PR em Mandaguari
Professor universitário e consultor
professor@scoarize.com.br
Este texto reflete a opinião do autor e não necessariamente a posição do CRA-PR.