Por Prof. Dr. Adm. Fabrízio Meller da Silva
Estamos basicamente no quarto mês de um distanciamento, com alguns “lockdowns” pelo país. Várias cidades iniciaram uma reabertura, porém estão realizando em “fases” e com gatilhos prontos para retrocesso. Logo, é bem provável que o salão da sua cabeleireira tenha reaberto, ou ainda, sua igreja e restaurante favorito reabrirá na próxima semana.
Nenhum Estado é igual ao outro e nem seus municípios. O isolamento radical (lockdown) foi doloroso para mim. Até nos melhores dos cenários o nível de ansiedade duplicou, a paciência foi reduzida e, sendo sincero, brigas por coisas triviais se sucederam. Portanto, me pergunto: valeu a pena? Refleti bastante sobre isso e a resposta quase certa é um “não”.
Vivenciamos três grandes ameaças que estão diretamente relacionadas – pandemia, depressão econômica e perturbações sociais. Como resultado da pandemia, foi originado o lockdown e depressão econômica, que por sua vez, contribuíram para as perturbações socais pois elevou-se o nível de stress, ansiedade, medo e depressão nas pessoas.
O Lockdown reduziu a disseminação do vírus e salvou diversas vidas! Mas, as virtudes de tudo isso podem ser temporárias. O famoso “achatamento da curva” não é vacina e nunca significou reduzir o total de infecções e mortes. É uma tentativa de não sobrecarregar o sistema hospitalar.
Mas, existiriam decisões melhores? Construção de hospitais temporários e locomoção de enfermeiros, médicos e outros profissionais da saúde de áreas com baixa infecção para regiões mais necessitadas, como São Paulo. Percebe-se que em pequenas cidades ou bairros de grandes municípios o vírus tem apresentado um padrão de previsibilidade, tendo um período de oito a dez semanas com um pico de cinco semanas e, posteriormente, uma diminuição gradual.
Um grande perigo do lockdown é que muitas pessoas mensuraram os benefícios temporários sem calcular os custos efetivamente.
Um artigo1 nos traz um indicativo de que o lockdown pode ou poderia levar à morte de muitos indivíduos, causadas pelas chamadas “mortes de desespero”: suicídio, alcoolismo, violência doméstica, overdose e outras questões médicas como câncer e ataques do coração, diabetes, entre outros, que não foram tratados devido ao medo (receio) de os pacientes irem aos hospitais. Outro artigo2 nos mostra que apenas a epidemia de crack, no Brasil, atinge dois milhões de pessoas, ou seja, mais exposição às “mortes de desespero” com o lockdown. A mortalidade relacionada ao álcool é significativamente aumentada entre homens e mulheres que perdem seus empregos3, sendo esta outra consequência do isolamento radical.
Em resumo, com a quarentena e o isolamento, mais vidas foram e estão sendo perdidas do que salvas. Taxa de abuso de álcool, drogas e de suicídios dispararam. Pessoas estão impacientes e com raiva. São aspectos sérios já antes da pandemia que se tornaram mais críticos e perigosos. Somado a isso, há o intenso aumento de desempregados e bilhões de reais de perda da riqueza do país. Isso é o que acontece quando se coloca apenas médicos no comando da gestão da saúde. Da próxima vez, uma excelente ideia é inserir Administradores e alguns analistas econômicos para entrarem na “sala” e também imergirem na solução do problema.
De modo global, o Gráfico 1 mostra o percentual de nações em todo o globo que estão em recessão ao mesmo tempo, desde 1870. Verifica-se que mais de 80% dos países estavam em recessão durante a grande depressão, em 1930. Nota-se durante as grandes guerras mundiais, com algo em torno de 60%, assim como na crise de 2008 que colocou mais de 60% dos países em recessão simultaneamente. E, o isolamento e quarentenas estão levando a mais e 90% das nações em recessão.
Impacto disso será terrível! Podendo nos levar para próxima fase crítica: crise alimentar!
Concluindo, o isolamento adotado em nações ricas pode não ser o mais prático para os países pobres, localizados na África, Ásia e América Latina, como dito pela OMS (Organização Mundial da Saúde), por gerar ausência de alimentos para população vulnerável. Não desejamos que uma crise de saúde se amplie para uma crise alimentar. Não desejamos que nossas crianças fiquem sem sua merenda escolar diária e que seus pais fiquem sem condições adequadas de prover o sustento familiar mínimo. As famosas medidas do “#fiqueemcasa” não podem acontecer às custas dos direitos humanos. Além do isolamento, há outras medidas de saúde pública que podem ser adotadas. Equilíbrio, administração e mais gestão são requeridos neste momento.
1https://www.insidesources.com/suicides-overdoses-on-upswing-as-lockdown-drags-on/
3https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5054271/
Prof. Dr. Adm. Fabrízio Meller da Silva
CRA-PR nº 18.580 – fmsilva@uem.br
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