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Com medo de perder emprego, profissionais vão em busca de novas oportunidades

Desemprego em alta e cenário de incertezas motivam colaboradores qualificados a irem atrás de outros desafios. Mas será que é o momento para mudar de time? E o que a empresa pode fazer para não perder talentos?

A pandemia do novo coronavírus continua trazendo grandes problemas para a sociedade. Além dos riscos para a saúde, a doença causou o desemprego de muitas pessoas. No Brasil, entre maio e junho, dois milhões de brasileiros perderam o emprego. O levantamento é da PNAD Covid-19, versão da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que é feita em parceria com o Ministério da Saúde.

Para se ter ideia do impacto, a população desempregada no início de maio era de 10 milhões e, na segunda semana de junho, já estava em quase 12 milhões. O receio de entrar nessas estatísticas tem motivado 41% dos profissionais qualificados e empregados, com 25 anos ou mais e com formação superior, a buscar novas oportunidades no mercado de trabalho. Os dados fazem parte da 12ª edição do Índice de Confiança Robert Half (ICRH), que também indica mudança na confiança do mercado, em decorrência das incertezas e inseguranças causadas pela crise do novo coronavírus. O ICRH consolidado para a situação atual caiu de 37,5 para 25,2, enquanto para a situação futura (próximos seis meses) passou de 56,7 para 44,2, pouco abaixo do campo otimista.

Mario Custodio, diretor de recrutamento da Robert Half. (Foto: Marcelo Pereira/M11 Photos)

“É natural que, em meio a um cenário de incertezas, muitos profissionais empregados busquem novas oportunidades por receio de perderem seus postos de trabalho. No entanto, é fundamental uma análise realista do panorama e agir com planejamento. É preciso ter clareza sobre os pontos de insatisfação como: perspectiva de carreira, qualidade de vida, relação com o chefe ou pares, remuneração, benefícios, cultura corporativa e distância entre a casa e o trabalho para não tomar uma decisão motivada apenas por desespero”, pontua Mario Custodio, diretor de recrutamento da Robert Half.

O conselheiro regional e coordenador da Comissão Especial de Recursos Humanos do Conselho Regional de Administração do Rio de Janeiro (CRA-RJ), Reinaldo Faissal, diz que todo mundo, literalmente, encontra-se no mesmo momento de incerteza. “Idas e vindas nas possibilidades de retorno às atividades, parcial ou total, têm sido frequentes”, afirma.

Para aqueles que estão em busca de novos desafios, Faissal aconselha: “Considerem as mudanças que certamente ocorrerão no segmento que lhes desperta o interesse. Isso inclui tanto a capacidade de uma empresa se adaptar frente às mudanças, como a sua expertise em inovação e operação de forma sustentável”, orienta.

Adm. Reinaldo Faissal (CRA-RJ)

Ele reforça, ainda, que outro ponto a considerar é o alinhamento entre as características exigidas pela posição que almeja e suas competências, sendo estas constituídas pelo conhecimento que já adquiriu, as habilidades que possui e as atitudes que utiliza, além da necessidade de responsabilizar-se pelo autodesenvolvimento. “O sucesso não é garantido, mas certamente que com esses passos o risco estará minimizado”, conta o administrador.

Como reter talento em tempo de crise?

Nesse cenário de incertezas, perder profissionais qualificados para a concorrência pode ser ruim para a organização. Mas, então, como manter esse colaborador engajado na equipe?  Segundo o diretor adjunto e conselheiro regional do Conselho Regional de Administração do Espírito Santo (CRA-ES), Hermano Mattos de Souza, muitas já sucumbiram e outras sequer possuem garantia de sobrevivência.

“As que puderem, devem proporcionar todas as condições possíveis para reter aqueles que serão indispensáveis no processo de retomada normal das atividades. Afinal, eles possuem profundos conhecimentos dos processos internos e poderão enxergar o melhor caminho para a recuperação, em curto espaço de tempo”, orienta.

Adm. Hermano Mattos de Souza (CRA-ES)

Faissal reforça a importância da lealdade da organização com empregados, clientes, fornecedores, acionistas, instituições públicas e a sociedade. As ações e atitudes dos líderes, segundo ele, representam a melhor medida para que qualquer empregado avalie o quanto lhe é compensador “mergulhar de cabeça” naquela empresa. Para o conselheiro do CRA-RJ, o bom exemplo é peça essencial para obtenção do comprometimento.

“A confiança é base para criação e manutenção de relacionamentos duradouros, portanto, deverá ser conquistada por intermédio da tomada de decisão e execução de ações, das mais simples às mais complexas, em consonância aos valores e princípios apregoados. Pelo princípio da reciprocidade a lealdade demonstrada será convertida em comprometimento e consequente bom desempenho”, diz.

Aos gestores, a missão é compreender os objetivos dos colaboradores e tentar alinhá-los com os interesses da organização. Hermano explica que a interdependência entre ambos é inevitável. “Para serem alinhados, o único caminho existente é a negociação transparente, com elevado grau de confiança entre as partes. É o momento em que todos devem reconhecer que novos métodos de trabalho exigirão posturas mais condizentes com a nova realidade. Nada será como antes, mas, em uma organização, as partes jamais poderão possuir objetivos divergentes, sob pena de amargarem resultados desfavoráveis”, avalia do administrador do CRA-ES.

Ana Graciele Gonçalves

Assessoria de Comunicação  CFA